Tudo começou em meados de Outubro. O dia tinha cor de um cinza pálido, que nunca tinha sido provado igual. Algumas perguntas sem respostas, algumas horas depois, e todas as respostas chegaram como uma chuva das tardes de verão - como sentia falta daquele calor, daquele tempo, é estranho pensar como coisas ridículas se tornam mais importantes em momentos de tristeza.
Só o necessário para saber, é que hoje o coração já não era vermelho cor de sangue, tinha uma cor suja, uma cor que aos olhos de outros tinha um pouco de dor, era pequeno para suportar certas coisas e o que estava por vir simplismente fazia com que ele crescesse mais - mas ninguém sabia. É estranho pensar dessa forma, quais são as chances de um coração machucado crescer e não diminuir quando está sangrando? Pode ser que esse seja um coração raro, não importa, a história é desse coração e não de outro entre tantos.
Uma pergunta veio a tona, e a resposta parecia mais difícil do que aquelas tantas já feitas em provas, ou perguntadas pelo caminho. Como é possível dizer o que você possui dentro de si? São perguntas que não deveriam ser respondidas ou ao menos um singelo "não sei". Mas não dessa vez, agora, era fascinante parar o tempo só pra descobrir e era cansativo fugir das respostas. O que tivesse que vir, que venha - era assim que pensava a dona do coração. Fugir foi sempre um bom argumento e uma ação assídua na rotina. Não importava do que se fugia, respostas, perguntas, sentimentos e momentos. Eles sempre a alcançavam, mais rápido do que ela conseguia fugir. E posso confessar, que ela estava cansada de dizer a si mesma que não havia respostas para si mesma. Se ela própria não as tinha, quem mais poderia ter?
A pergunta perdurou por todo o dia, batendo de forma rotineira nos seus ouvidos e não deixando esquece-la por sequer um segundo : " que é que tem dentro de você que você não deixa sair ? ".
Entre essa pergunta e a resposta, veio turbilhões de sentimentos, momentos e recordações, muitas vezes esquecidas de propósito ou mesmo que se fizeram ser esquecidas porque eram melhor lá no fundo. E a pergunta era, porque não deixar sair? Era medo? Era medo do quê? Certamente era medo. E era medo do novo.
Dentro desse coração, o que mais fazia sentido, era manter tudo o que já tinha sido vivido. Porque se esquecer de coisas que jamais deveriam ser esquecidas, de ações que nunca deveriam ter sido tomadas ou de momentos que não poderiam retornar? Quais fossem as razões, liberar essa chuva de verão, que passaria rápido seria mais difícil do que poderia imaginar. Mas também, seria a melhor atitude que a dona do coração poderia tomar em sua vida - e ela não tardaria a descobrir.
O ser humano demora a descobrir coisas que sempre são ditas ou que são obvias até certo modo. O importante nessa história, é que essa descoberta veio de uma dessas lembranças que ela não deixava escapar de si, essa descoberta era uma frase dita numa passagem da sua vida e que tornaria seu novo escape para todos os problemas : "hoje é o primeiro dia do resto da sua vida". Quantas vezes fosse dita essa frase, em todas elas viria uma lembrança e um choro. A dona do coração reviveu tudo outra vez. Ela sentiu todos as dores que a fizeram chorar até cair, as marcas que ainda estavam vivas e ardendo, os erros tão seus quantos dos outros que a fizeram crescer mas que a derrotaram de uma maneira que desiludia todas aquelas frases de : você é forte. Não importa quantas vezes ela se sentia derrotada, quantas vezes a queda parecia ser forte demais para que levantasse, ela passou a entender que o melhor de tudo era se levantar. A queda era o percurso. E quem foi que nunca caiu ?
A resposta era obvia para todas as suas dúvidas. " O que tem dentro de você ? ". A dona do coração, encontrou uma resposta obvia e até clichê : amor. Mas não era isso que bastava, todo esse amor, veio de todas as recordações e todas as vivências. Vieram de todos os momentos já passados, do futuro desejado, dos planos arquitetados e dos sonhos sonhados. A dona do coração era feita de tudo o que era bom demais para ser compartilhado. Mas era também, dona da mais cruel forma de se sentir as coisas, guardando a si mesma e as deixando empoeirar dentro de si. A dona do coração agora tinha uma nova missão para si mesma. Ela limparia todas aquelas lembranças que pareciam agarradas com força em seu coração. Por mais que ela gostasse de deixar até as ruins para sempre se lembrar, ela percebeu como perdia um tempo valioso sempre relembrando todas elas.
Primeiro porque o futuro traria tantas outras e não caberiam todas as coisas ruins. E deveria haver espaço para as boas. Essas boas, a dona do coração nunca as tiraria. Era dessa forma que ela respondeu a sua pergunta. Sua vida era feita de movimento agora. Ela tinha uma nova missão e uma nova forma de viver. Ela limparia o que quer que fosse ruim dentro de si, mesmo que não causado por si mesma, deixaria só as coisas boas. Mas acima de tudo, o que a fazia levantar todos os dias, mesmo naqueles dias que o tempo tinha cor de um cinza jamais visto, de um negro jamais provado ou de um vermelho que não era bonito como morango, ela acordava todos os dias e dizia a si mesma : " Hoje é o primeiro dia, do resto da minha vida ! "
MUITO BOM!!!
ResponderExcluireste texto está filosófico...
Foi fundo !!!
Bjs
Mamae
que maneiro chacs..
ResponderExcluirnum sabia q vc escrevia nao...
ate q vc tem talento hein!
beijos