sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Prematuro

São exatamente 6h da manhã agora, faz pelo menos 1 hora que eu estou me revirando na cama pensando em coisas absurdas que não saiem do meu pensamento. Talvez não seja possível eu contar exatamente como eu me sinto, ou como as coisas têm acontecido nas últimas semanas. Pra falar a verdade, nem parece que só tem 3 meses que eu estou aqui. Só sei que um sentimento está me acabando comigo, uma coisa muito prematura pra se pensar considerando que faltam ainda 7 meses pra ir embora. Exatamente isso, ir embora daqui.
É meio absurdo ouvir planos de férias dos meus amigos ou o que vai acontecer nos anos futuros e não poder dizer : também vou. É ruim do mesmo jeito ver algumas pessoas com medo de se aproximar porque sabem que daqui a um tempo estou indo embora e que vão sofrer. Pior ainda é escutar meus amigos dizendo como vão sentir minha falta e como não imaginam como vai ser sem mim. Não sei se alguém percebeu, mas esse mesmo discurso aconteceu alguns meses atrás, só que em outra língua, em outro hemisfério.
Meu sentimento de culpa tem a ver com a vontade de não ir embora. Mas tem também o medo de ir embora. Clichê demais, eu sei, dizer o quanto estou mudando e crescendo e amadurecendo e tudo mais.. aquela historia de intercâmbio é só farra, tem o seu lado verdadeiro. Afinal, o que vocês vêem por aí são as fotos com sorrisos, bebidas e gente legal. Daí vocês pensam : como esse pessoal que tá lá, sem estudar, sem fazer nada, só se divertindo tem coragem de chorar com saudades e querer ir embora? O lado difícil, pesado da coisa, ninguém sabe. Talvez imaginem, os mais presentes quando escutam o choro e as reclamações, uma hora cansa, quem do outro lado, que não entende nada do que está acontecendo vai querer ouvir seus problemas? Ainda mais problemas que se você não consegue resolver, ele do outro lado do oceano que não vai conseguir né...
Voltando a parte do medo de ir embora e de quem estou me tornando. Tem tudo a ver com o fato de que talvez, muito mais pra certeza, quando você muda tudo ao seu redor deveria também mudar, certo? Errado. Eu mudei, mas o lugar continua o mesmo e talvez esse lugar já não me pertença. É.. o problema não é o lugar, o problema sou eu. Não vou me culpar. São 3 meses em outra cultura, com outros hábitos, com outras pessoas. Num momento sou completamente dependente dos meus pais, tenho um namorado, amigas, uma escola. Preciso passar de ano, me preocupar com um vestibular que ainda tá pra acontecer, alguns churrascos e pronto, tá aí o meu ano. Em um curto prazo de 4 dias entre pegar um avião e aterrizar num aeroporto eu me deparo com uma vida completamente independente, onde adolescentes de 14 anos tem scooters e podem ir pra onde quiserem, com boates a 5min da minha casa, uma cultura onde você sai todos os dias, incluindo dias de semana. Tá aí. E aí? Como eu faço? Prematuro né?! Talvez eu já tenha escutado esse discurso.. e a saudade onde fica? E os seus amigos, sua família, o namorado que você deixou pra trás? Bate o sentimento de egoísmo, de até desprezo..
Saudade, dá e muito. Só que a gente cresce, ou deveria crescer. Todo mundo cresce, de jeitos diferentes. Talvez eu cresça de uma forma diferente.. talvez eu não precise entrar pra faculdade, tirar carteira, começar a trabalhar e me bancar sozinha pra crescer. Talvez sem querer ou querendo, eu cresci o mesmo tanto em 3 meses. Sabe como é né? Você administrar o seu dinheiro, você fazer seu horário, você cuidar de você sozinha, você não ter ninguém pra chorar no ombro, ter que descobrir sozinho em quem confiar ou não, resolver seus problemas sem seus pais, depender totalmente de você.. Muita gente não sabe como é isso. Eu até 3 meses atrás também não sabia. Daí vem a parte, e todos os amigos que ela diz ter? Porque ela tá lidando com tudo isso sozinha? Entra a parte da cultura. Entra a parte também, que eles não entendem isso assim como aqueles amigos deixados no Brasil também não entendam. Quem está vivendo isso? Nem mesmo seus orientadores podem te ajudar. Eles não entendem. Eles podem ter vivido e passado pela experiência do intercâmbio, mas nunca a experiência é a mesma. A minha nunca vai ser igual a de ninguém e vice-versa!!
Acho que é difícil viver construindo uma coisa sabendo que você vai ter que deixar pra trás.. é difícil viver desse jeito. As vezes a gente pensa : " isso não importa, pra que vou criar uma coisa se daqui a um tempo não vai ser mais minha?". Tudo muda. E vou exemplificar com coisas banais como começar a comer com um braço apoiado na mesa, uma coisa que você nunca fez e um dia você olha seu "pai" e seu "irmão" e percebe que você aprendeu isso com eles. Como por exemplo não existir outra bebida na sua casa que não seja água, ou comer frutas depois do almoço todos os dias, ou comer pasta todos os dias, ou mesmo ter as mesmas manias que as pessoas ao seu redor.. Esses dias a Abby veio aqui pra casa, a gente tava se arrumando pra ir pra uma boate e minha "mãe" tava ajudando a gente, e ela disse : " questo è veramente un problema" .. e a Abby olhou pra mim e disse : " agora eu entendi porque você sempre fala essa frase.. você fala como ela".
Não pensem que sou egoísta, ou qualquer coisa do tipo. Eu sinto saudades, esse sentimento é só medo de não pertencer mais ao lugar que você era, por ser uma pessoa diferente. O sentimento continua o mesmo, o carinho, o amor, a amizade, tudo isso. É só que as coisas mudam, a gente muda.. seilá. Pode parecer ridículo todo esse discurso, me faz mal pensar essas coisas. Principalmente agora assim de manhãzinha. Mas eu precisava dividir isso.

Saudades!
Mari

Um comentário:

  1. Parabéns!!!
    A cada dia você consegue demonstrar o Lírio.
    Te amo!!!
    Saudades!!
    Mamãe

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